As Quinze Primeiras Vidas de Harry August - Claire North


 Olá! Hoje a conversa é sobre o segundo melhor livro lido nesse ano tão conturbado que foi 2020. E foi uma leitura do tipo: "Uau! Como assim?!"

A primeira coisa a destacar é o fato de ser um livro único, coisa tão rara nesse século! E a forma despretensiosa e leve com que Claire North apresenta essa história tão intensa é simplesmente apaixonante!

A autora é inglesa. E o jeito meio cínico de ser do povo da Rainha é um charme adicional ao livro. Eu quase senti gosto de chá lendo! Normalmente, prefiro uma caneca de café mas, em consideração à tradição do povo de origem dessa joia, eu faço essa concessão. 

Vamos à história: Harry August é fruto de um estupro. Seu pai é um aristocrata agrícola, herói de guerra que, por raiva da traição da esposa, estupra uma empregada. Essa mulher morre ao dar a luz ao menino e uma tia dele resolve abafar o escândalo subornando a família August, formada por um casal de empregados da casa, sem filhos, a criá-lo. A ideia da tia era acompanhar de perto o menino, por isso esse arranjo.

Ele nasce sempre no dia 1º de janeiro de 1919, no banheiro da estação de uma estação de trem. Não importa como nem quando morra. É um ciclo inevitável. E cada vida dele é totalmente diferente das outras. E mais estranho ainda: ele lembra de absolutamente tudo o que viveu e que viu acontecer ao longo de todas as suas vidas. A partir da terceira vida, ele tenta descobrir exatamente quem é e porque isso acontece. E começa, então, uma série de aventuras de tirar o fôlego!

Aos stalkeadores que estejam interessados: O livro não é linear. Para organizar cronologicamente todos os fatos, talvez seja necessário ler mais de uma vez. E eu duvido que isso seja ruim! Particularmente, se não tivesse tantos outros livros na fila, eu recomeçaria agora mesmo!

É claro que não darei nenhum spoiler! Até porque acho isso um crime imperdoável!  Mas posso adiantar que temos uma certa Síndrome de Estocolmo relacionando nosso amado Harry August e o fenomenal vilão do livro: Vincent Rankis. Pensem num camarada sedutor e brilhante. É bem parecido com isso nosso vilão. Agora pensem nos seus colegas de escola do ginásio ou do Fundamental II, dependendo de sua idade; aqueles que não eram bem os mais populares, mas estavam sempre por perto deles. É mais ou menos assim nosso herói.

Aí você vai dizer: "Bah! Nada de mais nisso! Trocentas histórias têm personagens exatamente assim!" Mas eu disse que tinha uma certa Síndrome de Estocolmo, lembra? Harry e Vincent são, ao mesmo tempo, grandes amigos inseparáveis e arqui-inimigos! Sim, no melhor estilo Tom & Jerry!

"Tá. Mas o que tem de tão sensacional nisso?" Respeito sua pergunta. E respondo em  níveis: 1 - É fantasticamente simples numa época em que todas as histórias são forçosamente complexas. Ou seja, essa simplicidade, que remete aos romances folhetinescos do fim do século XIX é, por si só, uma retomada a uma vida anterior; 2 - Particularmente, o "Efeito Borboleta" me encanta por si só. E voltar no tempo sempre tendo que avançar para o "presente" pra impedir uma catástrofe "futura", sem ter necessariamente um "presente" é sensacional!; 3 - Imagine viver toda a sua infância quinze vezes sendo que, em doze, você vai ter que achar uma pessoa que está procurando você para tentar neutralizá-la antes que ela o faça. E impedir que ela faça estragos no mundo. Jura que isso não é incrivelmente eletrizante?!

Por tudo isso num livro só e, repito, de forma absurdamente despretensiosa do tipo "eu tenho uma historinha pra contar" é que a inglesa Claire North passou a ser postulante ao cargo de escritora preferida.

Até a próxima, amigos! Podem comentar à vontade para continuarmos a conversa.

E lembrem-se! A sala é grande! Têm cadeira para todos!!!


Ficha técnica:

Título Original: "The First Fifteen Lives of Harry August

1ª publicação: Little Brown Book Group, sob o selo Orbit. Grã-Bretanha, 2014

Claire North é pseudônimo de Catherine Webb

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